Nasci. Hoje nasci: filho da Arte. Da velha arte, a arte nossa de cada dia. Quem tem ouvidos para ouvir ouça. O meu grito preso e denso na garganta arvorará logo no esgar do meu primeiro amanhecer. Ventre de todas as artes que não conhece estrangeiros nem estrangeirismos embora sejam estranhas. Estranho vagido que diz assim “o que é ARTE”? resposta: choralegria!!! Sem definições. Cem definições. Alguma, nenhuma e outras infinitas artefinições. A arte nos esvazia e nos enche de nada-criador, a ponto de traçar dores, criando, dessa forma, nos vastos eus da nossa terra corpo e alma perfumada, as exalações das questões de ser, não-ser ou estar no nada sabe do conhece-te a ti mesmo da boca de Platão em Sócrates à boca do inferno de Matos: “Para a tropa do trapo vazo a tripa,/ E mais não digo, porque a Musa topa/Em apa, epa, ipa, opa, upa” . DesdArte, se recusa a ter a terrível ternura da definição e se rebela sendo bela quando não se encaixa, não se deixa dominar e deixa de ser para não ser e voltar a ser no eterno retorno do mesmo. Ou: a parte da arte e a arte da parte que nos parte e parte nos constitui ou nos constrói desconstruindo a famossíssima máxima que pergunta: é a vida que imita a arte ou a arte que imita a vida?. Não sei, declaro no escuro, eu, tudo e nada é vidarte e vida da arte e arte da vida que viva a arte em nós quando não existimos e desistimos visivelmente na hora do já. Essa morte da arte. Diversos nós da arte que imita a vida que imita a arte que imita a vida nas nossas experiências tão antigas quanto a arte da psique humana. Para o irreverente artista Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. Quem pode ler isto, que leia!
Vida e arte centro periférico do ser humano multiplica sua criatividade. Por falar em atividade criativa nasce a tal da criatividade perto da loucura da arte e do artista, ora genialidade ou fronteira da loucura – as duras penas. (Ora) Vã loucura. Sã loucura: insensatez da razão na sensata lucidez dos loucos artistas, na força da objetividade subjetiva trava e destrava no mundo do pensamento um contraponto importante de tensão que está sendo gerado nas histórias que permanecem na memória da humanidade, sempre representadas ou intervindo em uma ou outra obra de arte. Várias obras o humano faz, inclusive... escatologicamente. Pensar sem pensamento, pensamos com palavras ávidas e desgraçadas ou em quadros, em pinturas, em danças, em esculturas, ou em artes infindas. Na inevitável relação da arte que imita a vida até certo ponto que a vida imita a arte até o ponto que a arte pára de imitar a vida? Nesse jogo dos intrincados significados da arte, que nos faz medir a verdade (o que é isto?) com a linha mecanicista e tudo que passa disso é entendido como ficção, aqui ficção não é oposto de verdade mais um outro viés inventado para o centro da vida real? Neste ponto recriamos nossa intuição para medir desmensurando a verdade que se nos é apresentada. O novo na arte aparece diante de acontecimentos inesperados, no cotidiano do trabalho das coisas. Extraviada, exravagante, extravasada, o Extra da coisa. Será a cara da arte? A coisa da arte e a arte da coisa de cada um, uns que gera outros. Nesta arte aqui, dispõe-se a compreender que todo ato de escritura é uma dissimulação que talvez alcance o artístico fisicamente. Quem poder entender isso que entenda! Se bem que poucos o receberão. Aliás, beberão. No sofrimento do dia. Naquela douta ignorância de nada saber sabendo isto. Espaço e tempo do caminho velho do novo. Oráculos pós-modernos se movem e os sinos da arte, também, se movem em Machado ao afirmar que “a vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir DESLAVADAMENTE”, acredito que desse deslavadamente nasce Arte, que mostra o retrato do mundo do seu tempo, de cada tempo e seus respectivos constituintes, tentando na viagem do ser entre o sonho e a realidade a essência do mundo, o desespero do homem na espera da existência em si, velado no enigma insolucionável da vida e da arte. Alvorecer e crepúsculo. Taxado, crivado no peito da arte humana, que vem à tona no tom da felicidade do astro azedo e ilusório e nas palavras do crítico Marcelo Backes acerca do Bruxo do velho Cosme e Kafka que “Ninguém pode deixar de ver que há – como no velho Machado de Assis – uma gota da baba de Caim em toda essa felicidade presente”. Tais idéias ecoa em Clarice num dos seus contos magistrais, aparece a pergunta da arte para a vida e vice-versa: “como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza?” e se “Tudo no mundo começou com um sim”, inclusive o homem e suas artes, tomo em minhas mãos uma seguinte frase “ logo, esquecerás tudo; logo todos te esquecerão”, de Marco Aurélio, que nos leva ao “fim”: . Porém, a arte como forja-se no itinerário da veia anárquica, desconfia e põe o fim do fim e inaugura a esperança do começo. Entre começo e fim, há começos e fins, tanto de fim de começo como começo do fim, duas pontas que constantemente reclama seu lugar no homem. Explosão de uma graça salvífica dessa coisa por acomodação intitulada Arte.
Ao falar nessa tal arte, sempre esteve presente outra coisa chamada de belo, mas o que é o belo? Na abertura do seu livro “História da Feiúra”, o semiólogo e escritor italiano Humberto Eco, delineia o percurso artístico da história universal da feiúra pela janela das artes, estabelecendo a questão da feiúra e do belo que como já dissemos sempre esteve no centro das artes e anota que “na maioria das vezes, o feio era definido em oposição ao belo (...) No entanto, a história da feiúra tem algumas características em comum com a história da beleza”, sendo assim, ao ler o livro, percebi que o feio sempre serviu de parâmetro para o belo, e conseqüentemente, um preciso do outro para ser, penso eu, e ainda penso que às vezes o belo está no feio, e o feio no belo, existe, também, a beleza ínfima da arte e o estrondo do feio, que causa na arte, o nem ser bela nem muito menos feia apenas desculpe a tautologia “arte é arte”, ou como acrescentou Portinari é cor.
Deixando de lado essas questões e virando o ângulo da arte, pois há muitas maneiras de ver o mesmo quadro, volto-me agora para papeizinhos, fogueirinhas e abraços que as artes nos oferece, num grande e insaciável banquete da imaginação da humanidade, que vulcanicamente sai por todos os poros dos artistas e nos abre o terceiro e humilde olho, e outro olho do outro que nos ajuda a olhar essa tal de ETRA ou A-T-R-E ou (Terá) a arte nos seus âmagos seus equívocos e suas orações tão silenciosos que nos deixam surdos nu ser? Inevitável, anticonclusão: A arte se metamorfoseia-se, veja o início da metamorfose que não existe, passe por Ovídio em suas metamorfoses até na modernidade da metamorfose de Franz Kafka. Quem poder ver que veja! E veja já! A sua metamorfose. Sim sua. Como a arte nasce e nos faz nascer nessa brincadeira tão ilusoriamente real. Por hora preciso ir nascendo, pois Ars longa, vita brevist est.
Post-scriptum: desculpa leitor voltar ao latim, às vezes é necessário voltar para ressuscitar e cantar no ventre a cosmogonia da arte e nascer filho dela, da outra, da ... da arte.
Teimosa arteações da continuum
Frase milenar d’O Artista da fome, somos, Franz Kafka, engoli(dores) do discurso banal, depois digerir, adquirindo outro para confronto e o terceiro discurso inventamaginado sem ser originalmente exclusivo seu.
Escrevemos a cada dia nossas interrogações, dúvidas, desconcertos, ânsias, vírgulas e protocolos das reticências, pura burocracia crachada, exclamações ontológicas e antológicas, alógica filosófica, fica no ponto e vírgula para nada ser LUZ ou.
L. Torres
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